“Um barco a vela que partiu do cais buscando abrigo na ousadia do vento e do mar”.
Por mais que eu tenha buscado abrigo em algum outro cais, por mais que um bom número deles tenha surgido, o amparo não veio, o vazio não deixou de existir, e eu continuei a me sentir tão sozinha entre o vento e o mar quanto me sentia à beira daquele cais que já não me queria como membro seu.
Tentei explicar tantas coisas sobre aquele pergaminho que pôs um ponto final entre mim e ele, que esqueci de perguntar a mim mesma quais as minhas condições de ser, se minhas ações também não estavam ocultas, se eu também não tinha errado.
Enquanto me sentia descartada esqueci das coisas boas que o pergaminho havia me concedido, toda a sua história já escrita, todo o seu conhecimento, sua companhia, as páginas em branco que me deixou escrever, dos presentes com os quais me mimou, e eu não via, achava que não havia ganhado nada, apenas doado.
Hoje, ao sentir falta de alguma coisa na imensidão desse mar, lembro de que também não valorizei tudo que tinha.
E então por que não voltar para o cais de onde parti?
Parece que algumas vezes o vento esta querendo que eu faça isso, pois tudo indica que ele esta me dando a direção para regressar, mas já naveguei tanto, mesmo que em tão pouco tempo, e tanta coisa já mudou, que a dúvida da certeza não permite que minhas mãos girem o leme do meu barco.
Há muito tempo minha bússola não aponta para lugar algum, acho que já não saberia mais voltar.
Daniela Moreira
perfeito...
ResponderExcluirnossa vida, é isso... temos as vezes a sensação que somos simplesmente viajantes, andarilhos sem rumo...
incertezas... talvez seja por ela que ainda temos a fome de viver e de continuar, quando uma pergunta surge: o que tem mais além?
por mais que nos sintamos perdidos é interessante assim como relatas no vento que está supostamente te dando o caminho de volta para o lugar de onde saíste... que esse vento seria como se fosse o fôlego de nosso âmago.. realmente nos dando aquele sussurro suave e muitas vezes desapercebido...
verdade, geramos muitas desculpas para seguir essas orientações (seria também intuições?).. "minha bússola não funciona mais"... mas o que um perdido irá perder mais?
e assim é nossa vida.. fazendo de lugares estranhos nosso lar, e de lugares onde nos perdemos, de lugares de encontro.. até sairmos de novo e o ciclo natural mais uma vez agir...
talvez o foco não esteja no lar ou não lar, mas no aprender... e que por mais que estejamos rodeados de pessoas isso não garante segurança..
nossa.. curti de mais..